quinta-feira, 11 de março de 2010

CURSO DE MAQUIAGEM PARA ESCOLAS.


Todo início de ano é a mesma coisa... As escolas são maquiadas para "parecerem" bonitas e funcionais... Mas as demãos de tinta e a roçagem do mato não conseguem esconder as precárias condições de um número significativo de escolas. Agora, é impressionante a rapidez com que as regionais de ensino e a Secretaria de Educação defendem os bandidos que tomaram conta da Educação no DF. Mandam circulares, e-mails, usam todos os artifícios possíveis para "provar" por A + B que o Senhor Valente é inocente, que o CTC é a melhor coisa do mundo, e que nunca, na história deste DF, a educação esteve tão bem. Mas não é bem assim.
Lá dos gabinetes acarpetados e refrigerados não chega o desespero e os malabarismos que temos que fazer todo ano para manter esses prédios funcionando. É esgoto que explode... Passarinho que faz ninho no forro da sala... Crianças que se machucam e se "rasgam" nas telas, nas escadas, nas rampas. Curto circuito... banheiro entupido...portas sem maçaneta... torneiras que quebram... Telhado podre. Isso pra ficar somente na estrutura física dos prédios... Não vou falar aqui do déficit pedagógico.
A EC 108 de Samambaia foi fechada, por determinação da justiça, por não oferecer condições mínimas de trabalho para os professores e segurança para as crianças... Gostaria muito que os nossos nobres dirigentes matriculassem seus filhos nestas escolas... Fiação elétrica deficitária, banheiros fétidos, salas de aulas caindo aos pedaços (literalmente)... E enquanto isso, a bonita da secretária ainda acha que a justiça está errada... é mole? Todos os diretores e professores deveriam denunciar para o ministério público as péssimas condições das escolas. Nâo podemos ser coniventes com essa situação...
A vida de milhares de crianças e as nossas pode estar em risco. Será que essses cretinos realmente acreditam que vamos chegar ao sonhado "primeiro mundo" com as escolas da forma que estão?
FAÇAMOS A NOSSA PARTE!!!

EM BUSCA DA FILA PERFEITA.

Será a fila o nosso fetiche?
Uma das expressões mais visíveis, do controle do corpo, numa escola classe, é a fila. E o que espanta é que o tempo gasto e o stress causado pelas filas sequer são motivo de angústia e discussão em nossas escolas.As crianças fazem fila para tudo. Quando chegam... Quando vão para a sala... Quando vão para o banheiro... para o lanche... para assistir alguma apresentação no pátio... para ir pra sala de vídeo... praticamente, todos os movimentos das crianças no ambiente escolar é feito por filas. E claro, como buscamos a fila perfeita, os transtornos são inevitáveis. Empurrões, xingamentos, brigas... Um tal de "tia, tá no meu lugar!" "Tia, eu sou na frente!", Tia!!! Tia!!! Oh tia!!! Uma verdadeira cena cotidiana no inferno!.
Junta-se a isso, separamos, desde os primeiros momentos da criança na escola, os meninos e as meninas. Cada um no seu quadrado.Justifica-se que a fila possibilita a organização e da ordem. Ah... é preciso também "ensinar" as crianças a fazerem fila. Como se na vida diária elas já não aprendessem. Realmente não entendo essa fixação pela fila nas EC, além do mais, no final das contas, a partir do 6º ano isso deixa de existir. Meninos que estudam nos CEFs ou CEM quase não fazem fila. Ouvi um professor dizer que essa discussão é irrelevante. será? Será realmente que discutir o controle do corpo na escola, assim com a fila, a disposição das carteiras, o quadriculamento da sala de aula é realmente sem importância? Bom... nos últimos anos tenho ouvido muito pouca discussão nas salas dos professores.
Acabamos nos tornando uma categoria que "só dá aulas", ou no máximo, discutimos o que a Regional nos obriga a discutir. Neste ano, o projeto da escola vai tratar da educação de corpo inteiro, colocando o corpo no centro de nossas propostas. Esperamos mesmo que algumas alternativas sejam construídas, ou ao menos, discutidas.
Vamos ver no que vai dar...

quarta-feira, 10 de março de 2010

CUMPRINDO COM O NOSSO BELO QUADRO SOCIAL...

Cena 1: Um aluno (desses com vários W, Y, LL no nome), num dos vários rompantes de agressividade durante o período da aula, além de dar um tapa na cara de um colega, manda o outro chupar a ponta de sua pica e xinga a mãe do pobre coitado de arrombada! Detalhe: Este doce de candura tem 9 anos, numa sala de 4º ano da escola onde trabalho.

Cena 2: A avó da criatura, chamada pela professora e pela equipe pedagógica, começa a chorar o vale de lágrimas. O pai do aluno foi assassinado. A mãe, que já foi presa, não quer saber do moleque. O padrasto preso! A irmã de 15 anos, que já foi aluna na mesma escola, bom... boa bisca não é! Num lote, três barracos, todos ocupados por membros da família. 6 primos do mesmo naipe. Drogas, brigas, alcoolismo e a luta de uma vó para sustentar a galera!

Cena 3: Depois da longa conversa, propostas e palavras de encorajamento, me veio a constatação: O que fazer? Tudo que penso me parece pouco, inútil, compensatório. Seria essa a educação para os mais pobres? Para essas crianças, o destino já está traçado? Que forças descomunais esses meninos e meninas terão que ter para conseguir sair dessa situação... E o pior é que, muito provavelmente eles terão que fazer isso sozinhos ou com muito pouco ajuda. A maioria, vai formando a classe dos numerosos sobrantes... Aqueles que vão pegar o resto, do resto, do resto....

Depois do relato da avó tentei ainda disfaçar minha incapacidade. Vamos ao Conselho Tutelar, Assistência Social, Vila Olímpica... Só que, mais uma vez, sentí o nosso limite. Ainda mais quando nós, professores, precisamos também de ajuda. Jogam, nas escolas, centenas de crianças que não vão encontrar alí os mecanismos necessários para sua liberdade. Ao contrário! Cada vez mais a escola embrutece, não acolhe, não ensina. A escola é um grande palco, onde encenamos diariamente o discurso da superação, quando nós mesmos, somos peças da engrenagem... Um palco que não tem muita graça! Ao menos, para as crianças.

Tudo tão feio... tão incompleto... tão sem boniteza... Um reflexo das favelas e das satélites tão pobres. vielas, esgotos ao ar livre... ratos... canos quebrados... vidros quebrados... o mato pra todo lado... improvisos... A escola é a extensão da feiúra da vida desses meninos e meninas.

É porque tudo que é pra pobre é feio, é mal cheiroso, não funciona, humilha, envergonha e revolta. Tudo está meio torto, com buracos, faltando!!!

Por isso, meus amigos e amigas, em nossas carreiras vamos nos deparar com uma realidade difícil de digerir. Realidade essa que a gente não vai conseguir mudar sozinhos ou com discursos.

Bom... eu assumo o risco. De achar que mesmo difícil, é possível.
Como sou ansioso e não tomo remédio, eu não consigo parar!!!

terça-feira, 9 de março de 2010

CERTIDÃO DE NASCIMENTO.

Se você chegou até aqui é porque temos algo em comum.

Sou professor! E gosto disso...

No final da aula, esperava que a professora deixasse um pedaço de giz no quadro... Seria, aquele tesouro, uma divertida brincadeira. Brincar de dar aula. Irmãs e brinquedos prestando atenção nas minhas aulas imaginárias. Admirava minhas professoras. Flordenice (lindo nome não?), Veri, Dulcimar, Maria Alves... As primeiras... Como essas quatro ainda conseguem resistir em minha memória?

Logo, logo, a brincadeira se transformaria numa profissão, que condiciona o meu olhar sobre o mundo, sobre os outros e sobre mim.

Hoje, estou como coordenador pedagógico da Escola Classe 303 de Samambaia. São as reflexões, desabafos, indagações, inquietações, reações e atitudes diante desse cotidiano que se seguirão por aqui.

Conversemos então...