quinta-feira, 14 de outubro de 2010

OLHA A ENRASCADA EM QUE NOS METEMOS... OU NOS METERAM!



Enfim, chegamos no noticiário.
E não poderia ser diferente. Nestas últimas semanas as demandas da comunidade gay brasileira foram aglutinadas no mesmo balaio da discriminalização de drogas e aborto, eutanásia, e outras QUESTÕES POLÊMICAS. Por ter uma forte carga religiosa, esses temas inflamam defesas, criam a celeuma, Um Caim e Abel ideológico!
E olha que final (ou começo interessante)!
Desde sempre, o PT capitaneou a luta por nossos direitos. Nunca foi segredo pra ninguém que o PT SEMPRE esteve do lado de gays e lésbicas. Por ironia, foi FHC o primeiro a aparecer com uma bandeirinha arco-íris. O PSDB tomou a dianteira tanto que em São Paulo VÁRIOS direitos nos são garantidos, muito mais do que em qualquer outro lugar no Brasil.
Quando o PT assumiu a presidência, um monte de gente da militância assumiu funções no governo. Ano passado, aconteceu também uma Conferência Nacional LGBT, que acabou dando mais visibilidade do que ações concretas. Mas claro, avaliávamos como positivo o que estava sendo feito. Nunca na história desse país foram criados tantos programas destinados a comunidade gay. Mas, com as eleições, TUDO MUDOU.
De repente, aparecemos como um fardo, um incômodo! E com a rearticulação dos grupos conservadores, Dilma ficou refém de um discurso religioso, portanto, contrário aos direitos gays. Claro que essa declaração e essa mudança de discurso caíram como uma bomba entre nós. Em várias comunidades, blogs, twitter, o que se discute é a decepção com Dilma e com o caminho que ela resolveu percorrer, resolvendo nos excluir de suas pautas.
Ora, que absurdo! Gays e lésbicas também ajudaram a construir o PT! Quando os candidatos petistas ganhavam, sempre acreditávamos que íamos nos beneficiar. Vários militantes há muito tempo se candidatam a cargos eletivos pelo PT ou candidatos sempre apareceram para nos apoiar.
Oxi...
E pra piorar tudo, de repente, me aparece o tal do Serra, defendendo a união civil. É mole? Fomos colocados numa encruzilhada, como ebó pra Exu. Quem vamos apoiar? Dilma que já se colocou publicamente contra nossas demandas como questão em seu governo, ou Serra, que disse estar do lado do Estado laico, portanto a favor da união civil?
No meio disso tudo, um parêntese é necessário. Com essa fala, Serra dá uma rasteira nos Silas Malafaia da Vida que se posicionaram radical e agressivamente contra Dilma e que viam no tucano um defensor dos valores cristãos, um verdadeiro cavaleiro templário.
Tá vendo a sinuca de bico? Olha o tanto que as eleições são importantes e mexem com todo mundo? De repente, fomos colocados contra nossos eternos aliados. Evangélicos que demonizaram Dilma, agora vão continuar apoiando Serra depois de ter declarado apoio à uma de nossas reivindicações?
Poxa! Fortíssimas emoções...
Eu, que odeio o PSDB, que tenho nojo daquele povo com cara de botox, me vejo obrigado a passar por essa vergonha... por essa vergonha alheia...
Temos muito ainda a mudar. Apesar dos retrocessos, dos obstáculos, dos raivosos que espumam pela boca, vamos conseguindo uma coisa aqui e ali... Só acho que quem sai vitorioso nessa história toda foi o pensamento conservador e reacionário.
Porra!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

HIPOCRISIA EM CRISTO

Eu tô besta!
Lendo o noticíario, blogs, twitter, não se fala em outra coisa... Quem é contra e quem é a favor do aborto... Dilma e Serra numa luta atroz para parecerem cada vez mais religiosos. Quase numa campanha de canonização de suas ações e falas, remetem aos valores(?) da família e da vida na busca pelos 20 milhões de votos de Marina. Nessa discussão entra ainda a CNBB, pastores, Silas Malacraia, Igrejas... Ou seja, pela primeira vez e de forma mais contundente, os conservadores serão o fiel da balança nas eleições presidenciais. O que me preocupa pra caramba.
Não é de hoje que essas bancadas (evangélicas, principalmente) utilizam o seu enorme rebanho (literalmente) como moeda de barganha. Poder e Fé. E se utilizam dos mais variados subterfúgios para fazer com que esse rebanho marche em sintonia.Cada vez mais intransigentes, retrógrados e reacionários, pastores das mais variadas denominações se apresentaram como candidatos nestas eleições. E alguns saíram vitoriosos. É só ver o escroto do Ronaldo Fonseca e suas propostas fundamentalistas, entre outros. São eles que criam obstáculos para as pesquisa com células tronco, educação sexual nas escolas, eutanásia, união civil entre pessoas do mesmo sexo, liberação das mulheres, e por aí vai.
E é exatamente, este grupo que vem sendo assediado, mimado, comprado, melado pelos dois candidatos. Estamos dando poder a um grupo que ama o poder. Ama ditar o que é certo e o que é errado. Despreza a diversidade, abomina a religiosidade afrobrasileira, não tolera o diferente, não suporta o contraditório! Caramba... Parece que estamos vendo o horário eleitoral do Irã. Lá sim (e em outros países teocráticos), os escritos sagrados e suas respectivas interpretações mais radicais é que dão a tônica. Não parece que vivemos num país LAICO e DEMOCRÁTICO.
Independente de quem ganhar as eleições, quem já saiu vitorioso foi o pensamento conservador brasileiro (racista, machista, homofóbico, elitista).
Que merda!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

TRISTE FIM DO CORONEL DA BEZERRA DE OURO.

Que cara escroto!!!!
eu fico besta viu! Há muito tempo odeio o roriz. Primeiro por ser goiano! É foda ver o Roriz ser uma referência da imagem de Goiás, aqui no DF. Referência essa do atraso, do coronelismo, da bandidagem nua e crua e da matutagem. Ele e Iris Rezende ajudaram a moldar meu imaginário do tipo de política que me proponho a combater exaustivamente. Então, ao vê-lo ontem sendo julgado, me permitiu saborear um pouquinho da possibilidade de sua derrota. Uma esperança que não resistiu há alguns minutos de realidade. E não poderia ser diferente. "Eles" sempre estiveram (e estarão sempre) no poder! De uma forma ou de outra, "Eles" definem as coisas! Fui dormir chateado, decepcionado, puto! Mas nada que os beijinhos da pessoa amada pra gente adormecer com um sorriso. Agora, numa jogada ainda mais ridícula, o tal do roriz me coloca a esposa dele na roda... Que canalha viu! Bom... Claro que boa bisca ela não é, né? Pra aguentar 50 anos de roriz, ou a mulher é uma !santa! (como aquelas de novela) ou é osso duro de roer. Até então, minha crítica era em cima dos atos políticos do Roriz. Não sabia nada sobre sua vida pessoal. Ele, então, demonstrou MAIS UMA característica desprezível que eu desconhecia: o machismo. A mulher é um mero apêndice dele... Um fantoche... A esposa virou só um corpo. Que se mexe quando Roriz manda! Mas, vindo dele, não seria algo improvável. Deprimente ver um homem se arrastando dessa forma. Uma coisa meio vergonha alheia (daquela que a gente sente quando se envergonha de pertencer a mesma raça humana, tendo que compartilhar códigos genéticos com "Eles").São esses e outros fatos do nosso cotidiano que fazem com que eu acorde todo dia, saia do Guará pra dar aula numa EC em Samambaia, cada vez mais acreditando que o caminho que eu escolhi não é nada fácil. Ao contrário. "Se você quer remar contra a maré, tem que remar muito mais forte".Por isso colegas, não disfarço meu desassossego durante esses dias!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

QUEM FALA PELOS PROFESSORES E PROFESSORAS? ELES PRÓPRIOS? ELAS PRÓPRIAS?

CONTRIBUIÇÕES DA ESCOLA CLASSE 303 DE SAMAMBAIA PARA A CONFERÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA DO DISTRITO FEDERAL.

Atendendo à convocação da Secretaria de Estado de Educação, nós, professores e professoras, coordenação, supervisão e orientação pedagógica, juntamente com a direção da EC303, nos reunimos para discutir o Texto Base que norteará as discussão na Conferência de Educação Básica do Distrito Federal.
Ressaltamos que espaços democráticos de debate e formulação de políticas públicas são, entre outros, elementos fundamentais que possibilitam a construção de uma educação verdadeiramente de qualidade e comprometida socialmente.
Somente com a participação da comunidade escolar é que estas políticas podem se materializar de forma eficaz. Sem a voz e voto de professores e professoras, os projetos educacionais tornam-se um amontoado de boas intenções que passarão ao largo da realidade das salas de aulas.
Partindo então desses pressupostos, foram apresentadas as questões consideradas basilares da discussão e que giraram em torno dos três focos centrais da Conferência, quais sejam; o currículo, a avaliação e a formação de professores.
A seguir, apresentamos as nossas reflexões, inquietações e sugestões que deverão ser incorporadas ao Documento Síntese elaborado pela DRE-SAM.

CURRÍCULO
Entendemos que para a compreensão do currículo escolar faz-se necessário ter algumas referências primordiais. Primeiramente, existe um currículo oficial (amplo, geral e ideal) que por suas características deveria nortear todas as ações da escola. Entretanto, ao confrontarmos este mesmo currículo oficial com o praticado no cotidiano das salas de aula é perceptível várias contradições apontadas pelos professores e professoras.
O que constatamos é que a experiência docente condiciona o planejamento curricular, principalmente por ser o desenvolvimento dos alunos e alunas que irá nortear o trabalho pedagógico. Isso não quer dizer que as orientações curriculares elaboradas pela Secretaria de Educação não tenha seu valor. Ao contrário. Ele serve muito mais como um parâmetro ou referência. Dessa forma, este currículo oficial é reelaborado e ressignificado que necessariamente podem seguir caminhos diferentes daqueles que originalmente foram pensados.
Não podemos deixar de mencionar que as estruturas físicas, financeiras e pedagógicas das escolas públicas, em sua maioria, não possibilitam a efetivação de tudo aquilo que está expresso nas orientações curriculares. Esses fatores são os que determinam o sucesso ou o fracasso escolar.
E essa situação torna-se mais evidente na implantação das escolas integrais. Não que sejamos contrários a ela. Mas nos opomos à forma em que elas vem sendo estruturadas. A falta de espaços adequados, de pessoal suficiente e qualificado, de projetos atraentes e contínuos faz com que as escolas se tornem verdadeiros “depósitos” de crianças que, ociosas, não terão esse direito garantido de forma satisfatória.
Além dessas questões, a cada dia, cabe a escola novas funções e obrigações. Educação Ambiental, Educação para a paz, Educação e Direitos Humanos, Educação Inclusiva, Educação e Diversidade estão hoje na pauta das escolas. O que nos preocupa é que, enquanto não forem satisfeitas as funções mais básicas da escola (fazer com que os meninos e meninas aprendam a ler, escrever, interpretar, matematizar e entender a si mesma e o mundo que a cerca) essas outras dimensões, que são também tão importantes, ficarão, somente, no nível do discurso ou serão implementadas por um ou outro professor e professora, não se constituindo, pois, numa política coletiva da escola.
Esses elementos vão servir para entender os motivos pelos quais professores e professoras partem de concepções individuais para a elaboração de um currículo, que por ser subjetivo, não atende às expectativas da SEEDF.
Como há uma indefinição conceitual sobre currículo aliada à uma sensação latente de impotência diante de uma realidade tão difícil de modificar, o corpo docente das escolas opta, evidentemente, pela segurança daquilo que já se sabe, da experiência cotidiana, de uma reflexão estritamente prática e como a escola tem um ritmo muito mais lento do que as mudanças advindas da sociedade do conhecimento (muito mais veloz, dinâmica e revolucionária) nós demoramos para nos adaptarmos às novas demandas, chegando por vezes, a ignorá-las.
Fundamentos nessas reflexões propomos:
i) Que o horário de trabalho dos monitores e monitoras coincida com o horário de trabalho dos professores e professoras. Por terem um horário diferenciado, os alunos e alunas ficam sem observação e orientação por um tempo suficiente para prejudicar o andamento das atividades;
ii) Que os monitores e monitoras sejam prioritariamente de cursos de licenciatura;
iii) Que sejam observados os aspectos estruturais, pedagógicos e financeiros e respeitados critérios estabelecidos democraticamente para a oferta de educação integral;
iv) Que a discussão sobre currículo aconteça durante os semestres letivos e não no período de recesso e/ou férias e de forma efetivamente democrática;
v) Que sejam oferecidas condições adequadas de trabalho para todos e todas que trabalham na escola;
vi) Que haja um canal permanente de discussão que envolva os/as trabalhadores em educação, SEEDF e Universidades a fim de garantir a construção de uma proposta de currículo fortemente fundamentada na realidade de uma escola concreta e não ideal.

terça-feira, 6 de abril de 2010

ESCOLA LAICA??? OH GLÓRIA!!!!!

Se a busca pela religiosidade deve ser feita na família e em casa, porque a escola acaba se ocupando também dessa questão? E o que é pior, até quando as concepções religiosas, portanto individuais, vão continuar afetando negativamente, a prática pedagógica na escola pública? Aos fatos, pois!!! cena 1: Semana da Consciência Negra. Eu, como coordenador de uma escola classe de Samambaia sugerí alguns materiais, entre eles, DVDs do projeto Cor e Cultura Negra. Uma das colegas disse que não passaria um dos videos por conter cenas de rituais do Candomblé e Umbranda. Pode o batuque, mas não pode a macumba!!! "Tenho muitos alunos evangélicos", foi a justificativa. cena 2: Todos os dias, "religiosamente", antes da entrada para a sala... todos em fila... começa a melô do ladrão: "Entra na minha casa... entra na minha vida... mexe com minhas estruturas..." . Oras... Se não pode o candomblé, também não pode nenhuma, certo? cena 3: Este ano, a proposta pedagógica na escola gira em torno das questões do corpo. Por uma educação de corpo inteiro é o que nós preconizamos... Bom, nem todos... O projeto tenta introduzir a corporeidade, expressões corporais, teatro, dança... Mas dançar não pode... sabe por que? Ah... é contra a bíblia. Dessa forma, alguns colegas, ao se submeterem a uma interpretação da Bíblia, não trabalham a dança, o teatro... por ser pecado! cena 4: Introdução à educação sexual. Duas colegas, adeptas de uma seita católica que não permite métodos contraceptivos, se recusam a discutir esse tema com os alunos. Elas, mães de 7 e 5 filhos respectivamente, acreditam que não se pode influenciar as crianças a irem contra deus. Bom... Nesse caso, acabou não servindo a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana, não serviu também qualquer fundamentação teórica sobre a necessidade de discutir esses assuntos na escola ou qualquer chamamento ao bom senso.
A escola é espaço de disputa hegemônica. tudo bem... Mas até quando vai a tolerância aos intolerantes? É um direito agir da forma que eles agem?

quinta-feira, 11 de março de 2010

CURSO DE MAQUIAGEM PARA ESCOLAS.


Todo início de ano é a mesma coisa... As escolas são maquiadas para "parecerem" bonitas e funcionais... Mas as demãos de tinta e a roçagem do mato não conseguem esconder as precárias condições de um número significativo de escolas. Agora, é impressionante a rapidez com que as regionais de ensino e a Secretaria de Educação defendem os bandidos que tomaram conta da Educação no DF. Mandam circulares, e-mails, usam todos os artifícios possíveis para "provar" por A + B que o Senhor Valente é inocente, que o CTC é a melhor coisa do mundo, e que nunca, na história deste DF, a educação esteve tão bem. Mas não é bem assim.
Lá dos gabinetes acarpetados e refrigerados não chega o desespero e os malabarismos que temos que fazer todo ano para manter esses prédios funcionando. É esgoto que explode... Passarinho que faz ninho no forro da sala... Crianças que se machucam e se "rasgam" nas telas, nas escadas, nas rampas. Curto circuito... banheiro entupido...portas sem maçaneta... torneiras que quebram... Telhado podre. Isso pra ficar somente na estrutura física dos prédios... Não vou falar aqui do déficit pedagógico.
A EC 108 de Samambaia foi fechada, por determinação da justiça, por não oferecer condições mínimas de trabalho para os professores e segurança para as crianças... Gostaria muito que os nossos nobres dirigentes matriculassem seus filhos nestas escolas... Fiação elétrica deficitária, banheiros fétidos, salas de aulas caindo aos pedaços (literalmente)... E enquanto isso, a bonita da secretária ainda acha que a justiça está errada... é mole? Todos os diretores e professores deveriam denunciar para o ministério público as péssimas condições das escolas. Nâo podemos ser coniventes com essa situação...
A vida de milhares de crianças e as nossas pode estar em risco. Será que essses cretinos realmente acreditam que vamos chegar ao sonhado "primeiro mundo" com as escolas da forma que estão?
FAÇAMOS A NOSSA PARTE!!!

EM BUSCA DA FILA PERFEITA.

Será a fila o nosso fetiche?
Uma das expressões mais visíveis, do controle do corpo, numa escola classe, é a fila. E o que espanta é que o tempo gasto e o stress causado pelas filas sequer são motivo de angústia e discussão em nossas escolas.As crianças fazem fila para tudo. Quando chegam... Quando vão para a sala... Quando vão para o banheiro... para o lanche... para assistir alguma apresentação no pátio... para ir pra sala de vídeo... praticamente, todos os movimentos das crianças no ambiente escolar é feito por filas. E claro, como buscamos a fila perfeita, os transtornos são inevitáveis. Empurrões, xingamentos, brigas... Um tal de "tia, tá no meu lugar!" "Tia, eu sou na frente!", Tia!!! Tia!!! Oh tia!!! Uma verdadeira cena cotidiana no inferno!.
Junta-se a isso, separamos, desde os primeiros momentos da criança na escola, os meninos e as meninas. Cada um no seu quadrado.Justifica-se que a fila possibilita a organização e da ordem. Ah... é preciso também "ensinar" as crianças a fazerem fila. Como se na vida diária elas já não aprendessem. Realmente não entendo essa fixação pela fila nas EC, além do mais, no final das contas, a partir do 6º ano isso deixa de existir. Meninos que estudam nos CEFs ou CEM quase não fazem fila. Ouvi um professor dizer que essa discussão é irrelevante. será? Será realmente que discutir o controle do corpo na escola, assim com a fila, a disposição das carteiras, o quadriculamento da sala de aula é realmente sem importância? Bom... nos últimos anos tenho ouvido muito pouca discussão nas salas dos professores.
Acabamos nos tornando uma categoria que "só dá aulas", ou no máximo, discutimos o que a Regional nos obriga a discutir. Neste ano, o projeto da escola vai tratar da educação de corpo inteiro, colocando o corpo no centro de nossas propostas. Esperamos mesmo que algumas alternativas sejam construídas, ou ao menos, discutidas.
Vamos ver no que vai dar...

quarta-feira, 10 de março de 2010

CUMPRINDO COM O NOSSO BELO QUADRO SOCIAL...

Cena 1: Um aluno (desses com vários W, Y, LL no nome), num dos vários rompantes de agressividade durante o período da aula, além de dar um tapa na cara de um colega, manda o outro chupar a ponta de sua pica e xinga a mãe do pobre coitado de arrombada! Detalhe: Este doce de candura tem 9 anos, numa sala de 4º ano da escola onde trabalho.

Cena 2: A avó da criatura, chamada pela professora e pela equipe pedagógica, começa a chorar o vale de lágrimas. O pai do aluno foi assassinado. A mãe, que já foi presa, não quer saber do moleque. O padrasto preso! A irmã de 15 anos, que já foi aluna na mesma escola, bom... boa bisca não é! Num lote, três barracos, todos ocupados por membros da família. 6 primos do mesmo naipe. Drogas, brigas, alcoolismo e a luta de uma vó para sustentar a galera!

Cena 3: Depois da longa conversa, propostas e palavras de encorajamento, me veio a constatação: O que fazer? Tudo que penso me parece pouco, inútil, compensatório. Seria essa a educação para os mais pobres? Para essas crianças, o destino já está traçado? Que forças descomunais esses meninos e meninas terão que ter para conseguir sair dessa situação... E o pior é que, muito provavelmente eles terão que fazer isso sozinhos ou com muito pouco ajuda. A maioria, vai formando a classe dos numerosos sobrantes... Aqueles que vão pegar o resto, do resto, do resto....

Depois do relato da avó tentei ainda disfaçar minha incapacidade. Vamos ao Conselho Tutelar, Assistência Social, Vila Olímpica... Só que, mais uma vez, sentí o nosso limite. Ainda mais quando nós, professores, precisamos também de ajuda. Jogam, nas escolas, centenas de crianças que não vão encontrar alí os mecanismos necessários para sua liberdade. Ao contrário! Cada vez mais a escola embrutece, não acolhe, não ensina. A escola é um grande palco, onde encenamos diariamente o discurso da superação, quando nós mesmos, somos peças da engrenagem... Um palco que não tem muita graça! Ao menos, para as crianças.

Tudo tão feio... tão incompleto... tão sem boniteza... Um reflexo das favelas e das satélites tão pobres. vielas, esgotos ao ar livre... ratos... canos quebrados... vidros quebrados... o mato pra todo lado... improvisos... A escola é a extensão da feiúra da vida desses meninos e meninas.

É porque tudo que é pra pobre é feio, é mal cheiroso, não funciona, humilha, envergonha e revolta. Tudo está meio torto, com buracos, faltando!!!

Por isso, meus amigos e amigas, em nossas carreiras vamos nos deparar com uma realidade difícil de digerir. Realidade essa que a gente não vai conseguir mudar sozinhos ou com discursos.

Bom... eu assumo o risco. De achar que mesmo difícil, é possível.
Como sou ansioso e não tomo remédio, eu não consigo parar!!!

terça-feira, 9 de março de 2010

CERTIDÃO DE NASCIMENTO.

Se você chegou até aqui é porque temos algo em comum.

Sou professor! E gosto disso...

No final da aula, esperava que a professora deixasse um pedaço de giz no quadro... Seria, aquele tesouro, uma divertida brincadeira. Brincar de dar aula. Irmãs e brinquedos prestando atenção nas minhas aulas imaginárias. Admirava minhas professoras. Flordenice (lindo nome não?), Veri, Dulcimar, Maria Alves... As primeiras... Como essas quatro ainda conseguem resistir em minha memória?

Logo, logo, a brincadeira se transformaria numa profissão, que condiciona o meu olhar sobre o mundo, sobre os outros e sobre mim.

Hoje, estou como coordenador pedagógico da Escola Classe 303 de Samambaia. São as reflexões, desabafos, indagações, inquietações, reações e atitudes diante desse cotidiano que se seguirão por aqui.

Conversemos então...