terça-feira, 8 de novembro de 2011

PELO DIREITO DE DAR PINTA!

Não sei por qual motivo eu ainda perco o meu tempo lendo os malditos comentários de leitores dos jornais virtuais. Talvez por causa dessa curiosidade "antropológica" de saber o que a submergente classe média pensa, seja talvez pela esperança meio budista de encontrar no meio do lodo, uma flor de lótus, uma reflexão sensata, necessária e capaz de nos surpreender.
O Marc...o Nanini, numa entrevista há poucos dias, falou de sua vida amorosa (ou a falta dela). Falava, entre, outras coisas, sobre seus namorados. Todos os sites de notícias (?) e fofocas começaram a replicar a notícia, manchetando que o Lineu, da Grande Família, enfim, saía do armário. Bom, ao menos para um monte de gente, o fato do Nanini ser gay não é novidade há décadas e que, como ele mesmo disse depois, não saiu do armário porque nunca esteve lá dentro.
Mas, junto com a declaração, vieram os tais comentários. Um deles, vindo dos tais leitores me chamou muito a atenção: "Ao menos ele não desmunheca e não rebola!"
Imediatamente essa fala me jogou lá na minha infância e adolescência, quando meu pai, minha mãe, os "colegas da escola", a vizinhança, a parentaiada, enfim, todo mundo me dizia como (não) andar, como (não) falar, como (não) gesticular as mãos.... Pare de rebolar! Fale grosso! Vá pro karatê! Vá trabalhar na oficina do seu pai! não brinque de boneca! não use as roupas e os saltos das irmãs! não chore por qualquer coisa! Não seja você! Seja Homem! Ou, ainda: "Você pode até ser viado, mas ninguém precisa saber".
O fato de um cara gay dar pinta, de "fechar" incomoda tanto que dentre comunidade gay, os que mais são assassinados, além das travestis, são "as pintosas", as fechativas, as que riem alto, que balançam os ombros e batem o cabelo! Até mesmo entre nós, gays, a pintosa só é tolerada em poucos momentos: no palco, numa festa reservada ou montada nos guetos do pink market. Como amiga, as coisas complicam porque a pintosa "queima o filme", espanta os pretendentes e explicita um discurso que nós reproduzimos: Não precisa desmunhecar pra ser gay! .
Voltando aos comentários, outros ainda, na tentativa de disfarçar seu preconceito diziam que "isso", ou seja, o fato do Nanini ser gay não afetaria sua admiração pelo trabalho dele na TV. Caramba! O pior dos preconceitos é aquele que a gente insiste em não revelar.
É por essas e outras que sempre achei que a pinta é revolucionária, porque subverte a ordem, escancara a liberdade de ser exatamente como quer, sem pudores, sem amarras, jogando na cara dos caretas, dos fundamentalistas, dos enrustidos e dos conservadores as várias possibilidades de se expressar no mundo.
PINTOSAS DO MUNDO, UNI-VOS NO REQUEBRAR E NO DESMUNHECAR!

O livre espaço do campus.

Apesar dos caguetas, dos X9, dos delatores e dos infiltrados, durante a ditadura militar, apenas uma vez um campus universitário foi invadido pela polícia: em 1968, na UNB. O que era excessão, virou rotina. O que não fizeram na ditadura, agora fazem com frequência, em nome da tal Ordem.
Durante minha graduação,na UFG, por três vezes, a PM do coronel do Cerrado, Sr. Marconi Perigo, invadiu o camp...us. Nas duas primeiras, por causa das manifestações pela melhoria do transporte coletivo (na qual um "kombeiro" foi morto) e na última, durante o lançamento de um livro, o Dossiê K, escrito pelo Kajuru, que denunciava o uso da máquina e abuso do poder econômico nas eleições em que Marconi sagrou-se vencedor. A Rotan invadiu o Campus, recolheu os livros e agrediu um sem número de estudantes. A imprensa provinciana, claro, aplaudiu a ação.
Nos últimos anos, a PM também invadiu os campus da UFPR, da UNEB, da UFPel e por aí vai e por duas vezes a USP foi invadida.
Não vou me ater ao fato da USP ser um celeiro de playboys e patricinhas bem nascidos e ricos. O que me incomoda é que a autonomia da universidade, esse espaço privilegiado de experimentações, de devaneios e de produção acadêmica, de livre pensamento e contestação de costumes e comportamentos está se tornando, cada vez mais, um curral cercado pelo conservadorismo, pelo bom-mocismo e pela caretice.
Mesmo que possa parecer algo pequeno, diante das revoltas estudantis no Chile, no norte da África ou do maio de 68, os estudantes e o espaço universitário, seja da USP, ou de qualquer outra universidade, pública ou privada, não podem ser atacados pelo aparelho repressor do Estado.
Estamos nos acostumando, cada vez mais, a ver o falso moralismo, o fundamentalismo escroto e tacanho tomar as rédeas, auxiliados, claro, pela nojenta mídia direitosa que não suporta qualquer (des)ordem. E vamos acreditando, cada vez mais, que o "endireitamento" da universidade é vital para o sucesso do ridículo capitalismo brasileiro.
Viva a desordem! Viva o caminho torto! Fodam-se os puretas!