sexta-feira, 3 de setembro de 2010

QUEM FALA PELOS PROFESSORES E PROFESSORAS? ELES PRÓPRIOS? ELAS PRÓPRIAS?

CONTRIBUIÇÕES DA ESCOLA CLASSE 303 DE SAMAMBAIA PARA A CONFERÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA DO DISTRITO FEDERAL.

Atendendo à convocação da Secretaria de Estado de Educação, nós, professores e professoras, coordenação, supervisão e orientação pedagógica, juntamente com a direção da EC303, nos reunimos para discutir o Texto Base que norteará as discussão na Conferência de Educação Básica do Distrito Federal.
Ressaltamos que espaços democráticos de debate e formulação de políticas públicas são, entre outros, elementos fundamentais que possibilitam a construção de uma educação verdadeiramente de qualidade e comprometida socialmente.
Somente com a participação da comunidade escolar é que estas políticas podem se materializar de forma eficaz. Sem a voz e voto de professores e professoras, os projetos educacionais tornam-se um amontoado de boas intenções que passarão ao largo da realidade das salas de aulas.
Partindo então desses pressupostos, foram apresentadas as questões consideradas basilares da discussão e que giraram em torno dos três focos centrais da Conferência, quais sejam; o currículo, a avaliação e a formação de professores.
A seguir, apresentamos as nossas reflexões, inquietações e sugestões que deverão ser incorporadas ao Documento Síntese elaborado pela DRE-SAM.

CURRÍCULO
Entendemos que para a compreensão do currículo escolar faz-se necessário ter algumas referências primordiais. Primeiramente, existe um currículo oficial (amplo, geral e ideal) que por suas características deveria nortear todas as ações da escola. Entretanto, ao confrontarmos este mesmo currículo oficial com o praticado no cotidiano das salas de aula é perceptível várias contradições apontadas pelos professores e professoras.
O que constatamos é que a experiência docente condiciona o planejamento curricular, principalmente por ser o desenvolvimento dos alunos e alunas que irá nortear o trabalho pedagógico. Isso não quer dizer que as orientações curriculares elaboradas pela Secretaria de Educação não tenha seu valor. Ao contrário. Ele serve muito mais como um parâmetro ou referência. Dessa forma, este currículo oficial é reelaborado e ressignificado que necessariamente podem seguir caminhos diferentes daqueles que originalmente foram pensados.
Não podemos deixar de mencionar que as estruturas físicas, financeiras e pedagógicas das escolas públicas, em sua maioria, não possibilitam a efetivação de tudo aquilo que está expresso nas orientações curriculares. Esses fatores são os que determinam o sucesso ou o fracasso escolar.
E essa situação torna-se mais evidente na implantação das escolas integrais. Não que sejamos contrários a ela. Mas nos opomos à forma em que elas vem sendo estruturadas. A falta de espaços adequados, de pessoal suficiente e qualificado, de projetos atraentes e contínuos faz com que as escolas se tornem verdadeiros “depósitos” de crianças que, ociosas, não terão esse direito garantido de forma satisfatória.
Além dessas questões, a cada dia, cabe a escola novas funções e obrigações. Educação Ambiental, Educação para a paz, Educação e Direitos Humanos, Educação Inclusiva, Educação e Diversidade estão hoje na pauta das escolas. O que nos preocupa é que, enquanto não forem satisfeitas as funções mais básicas da escola (fazer com que os meninos e meninas aprendam a ler, escrever, interpretar, matematizar e entender a si mesma e o mundo que a cerca) essas outras dimensões, que são também tão importantes, ficarão, somente, no nível do discurso ou serão implementadas por um ou outro professor e professora, não se constituindo, pois, numa política coletiva da escola.
Esses elementos vão servir para entender os motivos pelos quais professores e professoras partem de concepções individuais para a elaboração de um currículo, que por ser subjetivo, não atende às expectativas da SEEDF.
Como há uma indefinição conceitual sobre currículo aliada à uma sensação latente de impotência diante de uma realidade tão difícil de modificar, o corpo docente das escolas opta, evidentemente, pela segurança daquilo que já se sabe, da experiência cotidiana, de uma reflexão estritamente prática e como a escola tem um ritmo muito mais lento do que as mudanças advindas da sociedade do conhecimento (muito mais veloz, dinâmica e revolucionária) nós demoramos para nos adaptarmos às novas demandas, chegando por vezes, a ignorá-las.
Fundamentos nessas reflexões propomos:
i) Que o horário de trabalho dos monitores e monitoras coincida com o horário de trabalho dos professores e professoras. Por terem um horário diferenciado, os alunos e alunas ficam sem observação e orientação por um tempo suficiente para prejudicar o andamento das atividades;
ii) Que os monitores e monitoras sejam prioritariamente de cursos de licenciatura;
iii) Que sejam observados os aspectos estruturais, pedagógicos e financeiros e respeitados critérios estabelecidos democraticamente para a oferta de educação integral;
iv) Que a discussão sobre currículo aconteça durante os semestres letivos e não no período de recesso e/ou férias e de forma efetivamente democrática;
v) Que sejam oferecidas condições adequadas de trabalho para todos e todas que trabalham na escola;
vi) Que haja um canal permanente de discussão que envolva os/as trabalhadores em educação, SEEDF e Universidades a fim de garantir a construção de uma proposta de currículo fortemente fundamentada na realidade de uma escola concreta e não ideal.