quarta-feira, 10 de março de 2010

CUMPRINDO COM O NOSSO BELO QUADRO SOCIAL...

Cena 1: Um aluno (desses com vários W, Y, LL no nome), num dos vários rompantes de agressividade durante o período da aula, além de dar um tapa na cara de um colega, manda o outro chupar a ponta de sua pica e xinga a mãe do pobre coitado de arrombada! Detalhe: Este doce de candura tem 9 anos, numa sala de 4º ano da escola onde trabalho.

Cena 2: A avó da criatura, chamada pela professora e pela equipe pedagógica, começa a chorar o vale de lágrimas. O pai do aluno foi assassinado. A mãe, que já foi presa, não quer saber do moleque. O padrasto preso! A irmã de 15 anos, que já foi aluna na mesma escola, bom... boa bisca não é! Num lote, três barracos, todos ocupados por membros da família. 6 primos do mesmo naipe. Drogas, brigas, alcoolismo e a luta de uma vó para sustentar a galera!

Cena 3: Depois da longa conversa, propostas e palavras de encorajamento, me veio a constatação: O que fazer? Tudo que penso me parece pouco, inútil, compensatório. Seria essa a educação para os mais pobres? Para essas crianças, o destino já está traçado? Que forças descomunais esses meninos e meninas terão que ter para conseguir sair dessa situação... E o pior é que, muito provavelmente eles terão que fazer isso sozinhos ou com muito pouco ajuda. A maioria, vai formando a classe dos numerosos sobrantes... Aqueles que vão pegar o resto, do resto, do resto....

Depois do relato da avó tentei ainda disfaçar minha incapacidade. Vamos ao Conselho Tutelar, Assistência Social, Vila Olímpica... Só que, mais uma vez, sentí o nosso limite. Ainda mais quando nós, professores, precisamos também de ajuda. Jogam, nas escolas, centenas de crianças que não vão encontrar alí os mecanismos necessários para sua liberdade. Ao contrário! Cada vez mais a escola embrutece, não acolhe, não ensina. A escola é um grande palco, onde encenamos diariamente o discurso da superação, quando nós mesmos, somos peças da engrenagem... Um palco que não tem muita graça! Ao menos, para as crianças.

Tudo tão feio... tão incompleto... tão sem boniteza... Um reflexo das favelas e das satélites tão pobres. vielas, esgotos ao ar livre... ratos... canos quebrados... vidros quebrados... o mato pra todo lado... improvisos... A escola é a extensão da feiúra da vida desses meninos e meninas.

É porque tudo que é pra pobre é feio, é mal cheiroso, não funciona, humilha, envergonha e revolta. Tudo está meio torto, com buracos, faltando!!!

Por isso, meus amigos e amigas, em nossas carreiras vamos nos deparar com uma realidade difícil de digerir. Realidade essa que a gente não vai conseguir mudar sozinhos ou com discursos.

Bom... eu assumo o risco. De achar que mesmo difícil, é possível.
Como sou ansioso e não tomo remédio, eu não consigo parar!!!

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