domingo, 24 de julho de 2011

Se o mundo é mesmo parecido com que vejo...

Cena 1: um aluno (desses com vários W, Y, LL no nome), num dos vários rompantes de agressividade durante o período de aula, além de dar um tapa na cara do colega, manda o outro chpar a ponta de sua "pica" e xinga a mãe do pobre coitado de "arrombada". Detalhe: Esse doce de candura tem apenas 9 anos, aluno de uma turma do 4º ano.


Cena 2: A avó da criatura, chamada pela professora e pela equipe pedagógica, começa a chorar o vale de lágrimas: O pai do aluno foi assassinado, a mãe, que já foi presa, não quer saber do moleque, o padrasto está preso, e a irmã mais velha, que já foi aluna da escola, hoje com 15 anos, se prostitui por pouco, muito pouco. No lote onde fica a casa desse menino, são três barracos, todos ocupados pela mesma família e seis primos, com o mesmo comportamento, são estudantes da mesma escola. Drogas, alcoolismo, brigas constantes! No meio disso tudo uma avó que luta, praticamente sozinha, para manter e sustentar tudo e todos.


Cena 3: Depois da longa conversa, propostas e palavras de encorajamento, me veio a constatação diária: O que fazer? Tudo o que penso me parece pouco, inútil, compensatório. Seria essa a educação para os mais pobres? Para essas crianças, o destino já está traçado? Que forças descomunais esses meninos e meninas terão que ter para conseguir sair dessa trágica situação? E o que é pior: Muito provavelmente, eles terão que fazer isso sozinho ou com muito pouca ajuda. A maioria vai formando a classe dos numerosos sobrantes... Aqueles que vão pegar o resto, do resto, do resto...


Depois do relato da avó, tentamos ainda disfarçar a nossa incapacidade. Buscamos o Conselho Tutelar, a Assistência Social, a Vila Olímpica... Só que, mais uma vez, senti na pele, o nosso limite. Mais do que nunca, tenho a certeza de que sozinhos, não conseguiremos mudar essa situação, já que nós mesmos, professores e professoras, precisamos de ajuda.


Milhares de crianças estão hoje em nossas escolas, numa situação muito similar ou até pior do que esse aluno. Apesar do discurso de que é na escola que essas crianças encontraram os mecanismos para sua liberdade, o que vemos é uma escola que embrutece, que não acolhe, que não ensina.


A escola é um grande palco onde encenamos, diariamente, o discurso da superação, quando nós mesmos, peças da engrenagem, não acreditamos mais nisso.


Tudo é tão feio... tão incompleto... tão sem boniteza... um reflexo das favelas e das satélites tão pobres. Vielas, esgoto ao ar livre, ratos, canos quebrados, vidros quebrados, piso quebrado. A escola marcada pelo improviso é a extensão da feiúra da vida desses meninos e meninas.


Mas não poderia ser diferente. O que é destinado aos mais pobres é sempre feio, mal cheiroso, não funciona, humilha, envergonha e revolta.


Por isso, meus amigos e amigas, em nossas carreiras vamos nos deparar com uma realidade difícil de digerir. Realidade essa que a gente não vai conseguir mudar sozinhos ou com discursos.


Ainda não encontrei o caminho para a mudança... Mas não me canso de procurar.

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